domingo, 6 de setembro de 2009

Oxossi

Olofin era um rei africano da terra de Ifé.Cada ano, na época da colheita, Olofin comemorava, em seu reino, a Festa dos Inhames.Ninguém podia comer dos novos inhames antes da festa.Chegado o dia, o rei instalava-se no pátio do seu palácio.Suas mulheres sentavam-se à sua direita.Seus ministros sentavam-se à sua esquerda.As pessoas reunidas comiam inhame pilado e bebiam vinho de palma.Elas comemoravam e brincavam.
De repente, um enorme pássaro voou sobre a festa.O pássaro voava à direita e voava à esquerda...Até que veio pousar sobre o teto do palácio.O pássaro causava espanto a todos.Era tão grande que o rei pensou ser uma nuvem cobrindo a cidade.Sua asa direita cobria o lado esquerdo do palácio.Sua asa esquerda cobria o lado direito do palácio.As penas do seu rabo varriam o quintal.E sua cabeça cobria o portal da entrada.As pessoas, assustadas, comentavam:
— Ah! Que esquisita surpresa!
— Eh! De onde veio este desmancha-prazer?
— Como vamos nos livrar dele?
— Vamos, rápido, chamar os caçadores mais hábeis do reino.
Trouxeram o “caçador das vinte flechas”.Ele lançou as vinte flechas, mas nenhuma atingiu o grande pássaro.O rei mandou prender.
Trouxeram o “caçador das quarenta flechas”.Ele lançou as quarenta flechas, mas nenhuma atingiu o pássaro.O rei mandou prender.
Apresentou-se o “caçador das cinqüenta flechas”.Lançou suas cinqüenta flechas, e nenhuma atingiu o pássaro.O rei mandou prender.
Finalmente, apresentou-se o “caçador de uma só flecha”.A mãe desse caçador não tinha outros filhos; foi rapidamente consultar o babalaô e saber o que fazer para ajudar seu único filho.O babalaô ensinou-lhe um ebó e umas palavras “bem fortes”. Ela devia dizer três vezes: “Que o peito do pássaro aceite este presente”.
Isso foi dito no momento exato em que o caçador atirava sua única flecha.A flecha atingiu o pássaro em pleno peito.O pássaro caiu pesadamente, debateu-se e morreu.A notícia se espalhou:
— Foi Oxóssi, o caçador de uma só flecha, quem matou o pássaro!
O rei deu como recompensa a metade de seu reino.Os três caçadores foram soltos da prisão.O “caçador de vinte flechas” ofereceu a Oxóssi vinte sacos de búzios.O “caçador das quarenta flechas” ofereceu-lhe quarenta sacos.O “caçador das cinqüenta flechas” ofereceu-lhe cinqüenta.E todos cantaram para Oxóssi.O babalaô também juntou-se a eles, cantando e batendo no seu agogô:Oxóssi! Oxóssi! Oxóssi!
No Brasil é grande o prestígio e força popular, além de um grande número de filhos. Seus símbolos são ligados à caça: possui um ou dois chifres de búfalo dependurados na cintura. Na mão usa o Erukerê, pêlos de rabo de boi presos numa bainha de couro enfeitada com búzios.
O mito do caçador explica sua grande e rápida aceitação no Brasil, pois identifica-se com diversos conceitos de índios brasileiros. Em alguns cultos essa relação é tão próxima que Oxóssi não é tido como um negro mas como um índio. Seu objeto básico é o arco e a flecha, o Ofá e o Damatá. Seu número ritualístico é o quatro por serem quatro as qualidades de Oxóssi difundidas no Brasil. A ele estiveram ligados alguns orixás femininos, mas o grande destaque foi para Oxum, com quem teve um romance e desse nasceu seu filho LogunEdé.
O filho de Oxóssi apresenta arquétipicamente as características atribuídas do Orixá. Impondo sempre sua marca pelo mundo selvagem, nele intervindo para sobreviver, mas sem alterá-lo. São pessoas independentes e de extrema capacidade de ruptura, o afastar-se de casa e da aldeia para embrenhar-se na mata a fim de caçar. Seus filhos possuem um grave conceito de ruptura e independência A solidão como prazer vem do seu interesse por atividades que exijam concentração e silêncio. São pessoas que tem o gosto pelo ficar calado e desenvolver a observação,.
Geralmente Oxóssi é associado às pessoas joviais, rápidas e espertas, tanto mental como fisicamente. Tem grande capacidade de concentração e de atenção, aliada à firme determinação de alcançar seus objetivos e paciência para aguardar o momento certo para agir. Os filhos de Oxóssi, portanto, não gostam de fazer julgamentos sobre os outros, respeitando como sagrado o espaço individual de cada um. Buscam trabalhos e funções que possam ser desempenhadas de maneira independente, sem a ajuda nem a participação de muita gente, não gostando do trabalho em equipe. Ao mesmo tempo, é marcado por um forte sentido de dever e responsabilidade, pois é sobre ele que cai o peso de sustento da tribo. São pessoas capazes de assumir grandes responsabilidades e de organizar e lidar, sabendo liderar facilmente grandes grupos.
Os filhos de Oxóssi não compartilham com os de Ogum o gosto pela camaradagem, pela conversa que não termina mais, pelas reuniões ruidosas e tipicamente alegres, fator que pode ser radicalmente modificado pelo seu segundo orixá (o ajuntó). Não são pessoas tipicamente extrovertidas,gostando de viver sozinhas, preferindo receber grupos limitados de amigos, como o caçador que de vez em quando, compartilha com outro caçador o seu almoço, troca histórias e informações, mas depois segue caçando sozinho.
Mesmo sendo um bom observador do comportamento humano – podendo antecipar atitudes e descobrir o que há de lúdico e repetitivo no jeito de cada um se comportar – o filho de Oxóssi tem pouca paciência com as sutilezas da diplomacia. Cansa-se facilmente das pessoas, de suas necessidades complexas, que ele poderá identificar como caprichos. Não aceita que nem todos tenham o aspecto simplista e austero da vida. Fisicamente, são pessoas relativamente magras, menos musculosas que os guerreiros filhos de Ogum ou encorpados como os filhos de Xangô. Tendem a ser pessoas nervosas, mais possuidores daquele tipo de tensão represada, mantida com certa dificuldade, até que explode uma única vez, atingindo o adversário no ponto mais fraco, que havia sido pacientemente visualizado no processo de preparação do bote. Possuem mãos delgadas, finas e extremamente expressivas. Seus olhos são vivos e atentos, seus passos extremamente leves, como do caçador que não quer provocar ruído. Sua movimentação tem certa graça e leveza, numa harmonias advinda da economia dos movimentos. Podem porém, ser mais vaidosos e requintados em circunstâncias específicas, como festas ou acontecimentos sociais em geral, como se o caçador pudesse ser rude ao trabalhar na mata, mas exigisse ser reconhecido como alguém de destaque nos raros momentos que passava na sociedade.

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